Empresas

Por Weruska Goeking, Valor Investe — São Paulo

Construtoras e incorporadoras divulgaram suas prévias operacionais na semana passada e os números são um prelúdio de resultados que devem ser bem recebidos pelo mercado financeiro.

As prévias do terceiro trimestre das construtoras brasileiras estão revelando mais um trimestre de vendas recordes e um retorno mais rápido do que o esperado em lançamentos”, afirmam as analistas do Bank of America (BofA), Nicole Inui e Gabriella Tak, em relatório divulgado nesta semana.

Mais do que um bom trimestre, os resultados devem ser o começo de um ciclo virtuoso para o setor, segundo Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, em live do Valor Investe que tratou das expectativas para a temporada de balanços.

Para Audi, as empresas do setor imobiliário colhem os frutos de um fator estrutural que vem se consolidando desde o ano passado, que é o "juro baixo e uma dinâmica de oferta de crédito muito benigna".

"A resiliência disso é tão forte que a pandemia quase não prejudicou [as empresas]. Foi um setor que passou muito bem pelo segundo trimestre e no terceiro trimestre já voltou com força total. Podemos viver o mais promissor ciclo de construção imobiliária que o país já viu desde a década de 70", afirma Audi.

Além dos juros baixos e o crescimento na concessão de crédito, o gestor destaca que a pandemia beneficiou o setor de construção civil com o efeito psicológico das famílias se planejando para melhorar sua moradia, com reformas, e até mesmo mudarem de apartamento/casa.

"A junção disso é um momento cíclico da cadeia de construção que é quase um 'boom'. Muito provavelmente veremos um momento bastante prolongado de uma atividade muito benigna da cadeia de construção", diz Audi.

Bancos

O lucro recorrente combinado dos três maiores bancos privados - Bradesco, Itaú e Santander - caiu 39,4% no segundo trimestre em consequência das provisões maiores contra perdas de crédito devido a crise causada pela covid-19.

O conservadorismo deve aos poucos ficar para trás e Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, acredita que as provisões para devedores duvidosos (PDD) no terceiro trimestre devem ser menores que os R$ 23,194 bilhões resguardados pelos três bancos para esse fim entre abril e junho.

A qualidade do crédito ainda vai continuar boa, mas pela má razão. A inadimplência vai continuar baixa porque parte do pacote de estímulos da pandemia passou pelo Banco Central permitir a rolagem das dívidas que estavam ficando em atraso”, avalia Audi.

O gestor explica que a real inadimplência ficará por meses ‘encoberta” pela renegociação de empréstimos.

“Será um trimestre bom, porque a inadimplência vai ficar baixa e as provisões vão começar a diminuir, enquanto o volume de crédito continua a crescer, principalmente o imobiliário”, diz Audi.

Educação

As empresas de educação ganham um olhar pessimista de Marcelo Audi. “Muitas empresas estão financeiramente bem, mas algumas têm alavancagem financeira e vão passar por um aperto”, diz.

O gestor explica que essas companhias dependem muito de capital de giro e têm um capital fixo muito grande e precisam elevar ao máximo o número de alunos por sala, caminho dificultado pela perda de renda das famílias com o aumento do desemprego na pandemia.

“O que elas estão vivendo é o contrário, estão com evasão. É muito difícil trazer aluno, manter aluno e vão ter que lidar com esse problema”, diz Audi.

Além dos alunos que simplesmente deixam o ensino superior em meio à crise, um movimento de migração para o ensino à distância (EAD) também acende um grande alerta no setor.

“Se essas empresas começarem a ter aumento de migração de ensino presencial para EAD vai ser muito ruim. Tudo mais constante, se a empresa não perder nenhum estudante, mas tiver migração de ensino presencial para EAD, o ticket [preço médio da mensalidade] do EAD é um terço do presencial, é ruim e tem que tomar cuidado com isso”, calcula do gestor.

Ambev

Após ver seu lucro líquido tombar pela metade no segundo trimestre, a gigante de bebidas deve mostrar um resultado melhor, mas ainda modesto no terceiro trimestre, ainda impactada pelo fechamento de baladas e operação restrita de bares e restaurantes do país.

“A Ambev não foge da realidade de depender da normalização de restaurantes e bares e isso é só no ano que vem, depois da vacina, até lá tudo vai ficar meio travado”, diz Audi.

As vendas no acumulado do ano, até agosto, cresceram 8,2%, segundo a Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição (Confenar), que reúne 110 revendas da Ambev e responde por cerca de 30% da distribuição da cervejaria no Brasil.

Os dados foram vistos com otimismo por analistas do Credit Suisse e do Bradesco BBI por sinalizarem recuperação, ainda que gradual, das vendas, conforme relatórios.

Papel e celulose

As empresas de celulose e papel - Klabin e Suzano - devem reportar resultados mais fracos devido aos preços de celulose levemente menores no trimestre e sazonalidade da demanda mais fraca, com as férias de verão no hemisfério Norte. A avaliação é dos analistas do Credit Suisse, Caio Ribeiro e Gabriel Galvão.

A exceção deve ser a Irani, que deve reportar Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) estável, na comparação trimestral, já que a forte demanda de papel cartão deve compensar os preços mais altos de papelão ondulado”, dizem os analistas, em relatório.

O Credit acredita que a pressão sobre a celulose já parece estar bastante nos preços das ações e, na opinião dos analistas, o mercado neste momento está mais focado em se os preços de celulose irão ou não se recuperar no quarto trimestre - e o Credit acredita que sim).

Concessionárias de rodovias

As concessionárias de rodovias devem ver seus números melhorarem a medida que as atividades econômicas são retomadas e isso já poderá ser visto no terceiro trimestre ante o trimestre anterior, ainda que de maneira muito gradual, segundo Audi.

Nas estradas sob concessão da Ecorodovias, o tráfego total comparável caiu 14,8% entre os dias 16 de março (início da quarentena no país) até 4 de outubro, na comparação com o mesmo período de 2019, diante da menor mobilidade.

O tráfego das estradas da CCR caiu 5,1% de 1º de janeiro a 17 de setembro, com destaque para a queda de 18,8% no fluxo de veículos de passeio. O fluxo de veículos comerciais cresceu 7% no período.

(Colaborou Allan Ravagnani)

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